"O menos é mais."

domingo, 20 de março de 2011

A fenix

Certo, o maior clichê, anunciar a sua morte e dizer que vai renascer, como uma Fenix. A morte está em nós a todo o momento, eternamente, repetidamente, e ao lado dela a vida retorna a todo instante, hoje estou morto. Onde tudo começa ou termina, também não sei, como então dizer que vou renascer das cinzas? Não, não vou, estou morto e enterrado, agora, tudo que passou, passará, tudo que virá também, pra mim são sensações, somente isso, e a vida não se torna mais medíocre por isso. Eu não quero estar morto -- mas a morte é justamente o não estar--, não quero perder minhas lembranças, quero me agarrar ao que sinto, mas, por mais forte que seja meu querer, não mudará o fato de que tudo passará. Ela também passará, por isso digo, este que voz escreve, está morto, não existirá mais. Dizer que vou renascer das cinzas, é uma mentira, serei outro, nem pior nem melhor, ou talvez melhor por um momento e pior noutro. Sei que estou morto, mas ainda não é o fim pra mim, viverei na vida de outro alguém, ela também, mas para ambos , estaremos mortos, enterrados. Não perca tempo, não chore por mim, eu não estarei mais para mudar algo.

Na vida não há tempo pra lamentações, busque o sol e conquistará o sol. Não sei pra onde ir, mas eu vou e este blog ficará para trás.

quarta-feira, 9 de fevereiro de 2011

Um dos bons motivos de contar a idade é poder reclamar que esta' velho. Mas chato mesmo é ser criança, com toda a solidão e incompreensão que sofrem.

domingo, 6 de fevereiro de 2011

    "Pouco me importa. Pouco me importa o quê? Não sei: pouco me importa." Fernando Pessoa
Conheci uma criança, inocente, como toda criança. Ela brincava, às vezes se machucava, tudo era apenas mais uma brincadeira. Já fui criança, não sei quando nem como, mas disseram que cresci, se é uma coisa que acontece não sei, sei que parece bem importante. Quase sempre a idade é a primeira a coisa a se saber quando se tem uma relação. Nietzsche havia dito que a vida se torna mais dura quando chegamos próximo ao topo, é impossível chegar próximo ao topo se ainda não viveu o suficiente, assim os mais precisos podem dizer que a vida para alguns adultos é mais dura. Admiramos uma vida dura, basta olhar àqueles vagabundos de vida boa e logo nos vem uma aversão bem forte, porém, dizer que um sujeito é trabalhador é sinônimo de um bom sujeito. O mesmo às vezes dizem para as mulheres, mas ao invés de trabalhadores, preferimos dizer que são boas mães. A sociedade espera isso das mulheres, eu sei, é uma grande bobagem. Me distraí e esqueci de falar sobre a criança do primeira parágrafo. É assim que sinto as coisas a minha volta, o personagem principal é esquecido, voltamos os holofotes para nós mesmos. Sempre. 
    A criança não era tão interessante assim, tanto que sua história foi substituída por uma mera reclamação. O ator principal não vale nada, no fim estamos apenas confirmando se a peça é boa suficiente pra merecer nosso elogio, como se nosso elogio valesse algo, talvez para alguns críticos profissionais valha algo, mas só porque alguns jornais idiotas acreditam na senioridade do crítico e lhe dão dinheiro. 
     Pois bem, de fronte à isso, pergunto: o que me importa? Tão cansado ao ponto de estar cansado demais para terminar esse texto, que poucos irão se envolver, pois é tão pessoal e singular, em outras palavras, inútil. Só vale para mim.
     Hoje eu quero comer um lanche com hamburger e queijo. Quero dormir e acordar sem sono. Acordar e pensar que nada precisa ser aprendido, tão pouco descoberto, não existe nenhuma verdade pra ser dita. Apenas quero pensar no meu café e olhar atentamente a janela pra saber se irá chover, sentar no ônibus, chegar no trabalhar e falar: Bom dia. 

sábado, 8 de janeiro de 2011

Gato de Schrödinger

Janelas quebradas do meu quarto
Cabeça sufocada em pleno parto
Estrelas pálidas derretem no céu
Junto de mil sóis espalhados ao léu
Tão certo, tão certo, tão certo
Pulsa o mundo indiferente assim
Tudo disso é tanto e nada pra mim
Mesmo quando perto, perto, perto...
Parece-me cheio do nada, um deserto
Enquanto todos em volta vivem completos
Sólidos esparramados pelo chão
Fecho um dos olhos abaixo do vão, da porta
Torno mais um copo de arte
Consumo até a última gota
Eu mesmo, eu mesmo, eu mesmo
Quebro-me, parto-me
Espalhado ao chão vibrante
Perco-me, perco-me
Não há diferenciação entre chão e mão
Corpos e socos
Água e baba
Dor e alegria
Início ou fim do dia
Eterno e instante
Pálido e vibrante
Vivo e morto

quinta-feira, 6 de janeiro de 2011

Eterno retorno do mesmo

Corro demais sem sair do lugar
Caminhos e portas que dão voltas e voltas
Tudo que passou permanece aqui
Nesse mundo dos sentimentos
Não há o que se possa fazer 
Sentirá o mesmo do mesmo jeito
Ao mais minucioso, nada é diferente
Se tens chocolate, coma-o
Coma chocolate pois é o que importa
Mudar para se tornar o que já foi
Pois bem, me dê essa grande transformação
Do camelo ao leão, do leão à criança
A diferença é que agora se percebe a não diferença
Mudar é apenas tornar a si novamente
Mais uma vez... mais um vez... mais uma vez

segunda-feira, 20 de dezembro de 2010

Num xadrez: as neuroses do pião

Serei capaz de pensar o quanto fracassei?
Fracassei nisso também
O sonho não acabou, certamente, nunca começou
Quem é capaz de olhar profundamente dentro de si?
Às vezes, não importa, nunca vamos conseguir
Quem nos dirá a hora de desistir?
Morreu, tentando viver, nunca viveu
Há coisas que nunca seremos capazes
Quanto vale a vida?
Tanto pra nós e tão pouco pra todos os outros
Eu sou o pião a liberar o caminho da rainha
Não sei, talvez o bispo mereça morrer
Sua família choraria sem saber o que se passava
Consolaria dizer? Era inútil, apenas inútil...
A natureza gosta de fazer política
Quero um cérebro em troca de dentes
Mas ela diz: o que me importa?
E ganhaste um cérebro
Agora, pergunto-me, O que faço?
Arte, ciência, sexo, jogos, conversa a fora
Percebo as coisas em volta
Minha cama é de veludo
Mas ainda em minha lápide há-de estar "Apenas vivi"
Isto basta
Ou ao menos finjo que assim se está bem
A família continua a chorar a perda do bispo
E eu indiferente, Não o conhecia
Talvez eu devesse falar palavras bonitas
Ou então fingir qualquer verdade
Quando se é mau caráter a mentira cai bem
Poderia dizer, Ele foi um homem admirável
Seria mentira, claro
O que pensaria se lhe desse a honestidade:
Nunca vi tão mais inútil e apático!
De certo, ganharia inimizades
Não que inimigos me incomodam
Me são tão valiosos quanto amigos
Diria que tão mais se mereça prezar
O duro é ser inimigo e ter apenas indiferenças
Ter amigos e não lhe guardar bons sentimentos
Ah, meus amigos, isso é duro
Para tal não há fundamento
Simplesmente se é
Em miúdos somos senhores do nosso caminho
Desde que seja o de ir e vir de casa em casa
Mas daquilo que somos, bem pouco, pois é, bem pouco
Somos homens, mulheres, bispos, reis e escritores
Cada qual com seu qual
Sem qualquer para que
Não se atreva a saber
Ah... ignorância, santa ignorância!
Faz tão bem e cobra tão caro
Portanto, pelo exato motivo, vale muito
Tanto vale que a ignorância não se conquista
Assim como ser um pobre bispo, apenas se é
A inteligência é conquistada, é feita para desgraçados
Talvez perceba a minha inveja
Disfarçadas em tantas ofensas ao infeliz bispo
Ah... se pudesse sê-lo ou ao menos desprezá-lo.

segunda-feira, 29 de novembro de 2010

Luz acesa

    Acordo cedo e acendo a luz, o sol acanhado não ilumina o interior de minha casa, tomo banho e um café, insisto em manter a escova de dentes dela ali, no copo, em cima da pia, me parece que já é o seu lugar definitivo, mas dela aqui há apenas sua escova de dentes e uma saudade.
    Saio correndo pra pegar o trem toda manhã, volto as onze horas, antes de entrar em casa, percebo que a luz está acesa, fixo o olhar para confirmar e constato que realmente a luz está acesa, paro em frente a porta fechada, esqueço da fechadura e imagino que deve ser ela a me preparar uma surpresa, havia voltado para viver ao meu lado, antes de perder completamente a visão nessa súbita euforia, abro rapidamente a porta e ansiosamente entro impulsionado pela esperança de vê-la, era uma luz acesa por esquecimento.